A partida de uma Mestra é semelhante ao desaparecimento de uma árvore: ambas deram tanto em vida que a morte não é o fim; embelezaram, alimentaram e acolheram tanto e tantos que os seus frutos se multiplicam no tempo e no espaço.
Crispina Lopes, Dona Pina, mulher negra, trabalhadora rural aposentada, mãe, tia, avó, bisavó, madrinha, comadre e vizinha, viveu toda a sua vida na Bahia, uma vida de trabalho e festa. Nasceu em 1938 na antiga Fazenda Coqueiro, atual bairro de Palmares, Simões Filho, nos arredores de Salvador.
A família Lopes é uma das mais antigas da região, seu pai e avô foram agregados nesta fazenda nos anos após a abolição da escravatura no Brasil. Em meados do século XX a fazenda foi vendida e os agregados se viram obrigados ou a comprar lotes nas terras onde viveram por toda a vida, ou a partir para as periferias das cidades próximas. A família Lopes conseguiu permanecer.
Dona Pina ainda moça foi pastorinha de Dona Antônia e do Mestre Aristides, grandes festeiros da região, e brincava animada muitos folguedos tradicionais, especialmente o seu Baile Pastoril Queimada da Palhinha. Um pouco mais velha tomou a responsabilidade de “armar lapinha”, tornou-se a dona da festa, guardiã dos seus saberes centenários, Mestra de Cultura Popular e Tradição Oral.
Dedicada à família e à comunidade de Palmares, era respeitada e amada, e todos os dias muitos passavam pela sua porta e gritavam “A bênção Dona Pina!”, ao que ela respondia lá de dentro de casa “Meu Pai te abençoe!”. A sua bênção paira ainda hoje sobre os mais moços, podendo guiar e orientar as novas gerações desta comunidade.
Falecida em setembro de 2020, aos 82 anos, a sua vida e os seus saberes deixam uma herança cultural bonita e profunda para Palmares e para Simões Filho. Dona Pina é uma referência cultural e espiritual da sua comunidade, sustentou a tradição dos Bailes Pastoris da Bahia e merece ser homenageada, lembrada e honrada.
A Exposição Fotográfica Virtual A bênção Dona Pina! é uma homenagem póstuma à Mestra Pastora Crispina Lopes. Expõe ao todo 23 (vinte e três) fotos, algumas do acervo familiar, além de fotos autorais registradas pelos fotógrafos Bira Freitas, Uendel Galter, Águeda Mascarenhas, amigos e apoiadores do grupo que registraram esta Mestra e elementos do seu universo cultural. As fotografias estão apresentadas em 4 coleções intituladas:
• Ainda Moça
• Mãe, Tia, Avó e Bisavó
• Mestra Pastora
• Dona da Festa
Esta homenagem é uma declaração de amor das pastorinhas à sua Mestra maior, um agradecimento por tantos anos de vida e festa.
A bênção Dona Pina!
Wayra Silveira
Aprendiz, amiga e afilhada
A partir do acervo familiar, esta coleção mostra Dona Pina mais jovem em fotos de documentos pessoais e em um retrato raro com a sua mãe, Dona Josefa. Registra ainda a sua condição de trabalhadora rural.
O seu papel de comando, guiando as pastoras mais novas neste ritual, é revelado pelas fotografias de Águeda Mascarenhas e Bira Freitas. Esta coleção traz uma das últimas imagens de Dona Pina no baile.
Cercada de netos e bisnetos, Dona Pina é retratada aqui como a matriarca da família Lopes a partir das lentes de Bira Freitas e Uendel Galter. A coleção traz ainda uma fotopintura do seu acervo familiar.
O barracão de Dona Pina é o lugar da festa, no seu quintal ocorrem a brincadeira e a devoção, na porta da sua casa as palhas são queimadas. Esta coleção traz o olhar de todos os fotógrafos da Exposição.
Produção Geral: Wayra Silveira
Produção Executiva: Grace Queiroz
Produção Local: Josenilda Lopes dos Santos
Curadoria: Grace Queiroz e Wayra Silveira
Fotografias:
Águeda Mascarenhas
Bira Freitas
Uendel Galter
Acervo da Família de Dona Pina
Produção Gráfica: Elaine Quirelli
Assessoria de Imprensa: Carlos Baumgarten e Maria Clara Lima
Desenvolvimento do Site: Estúdio Moriah
Versos da Exposição:
Repertório do Baile Pastoril
Queimada da Palhinha
Agradecimento Especial:
Mestra Crispina Lopes (In memorian)
Agradecimentos:
Jaqueline Silva
Josenilda Lopes
Gilda Araújo
Rosangela Anunciação
Realização:
Memorial Baile Pastoril Queimada da Palhinha
APOIO FINANCEIRO
Bira Freitas, filho de Bom Jesus dos Pobres no Recôncavo Baiano, terra de saveiristas e feirantes que desbravaram a Baia de Todos dos Santos em busca da sobrevivência. Desde muito cedo se interessou pelas manifestações da cultura popular, participando ativamente de todos os festejos da localidade. Hoje tem como paixão os registros fotográficos de manifestações culturais populares da Bahia. Exposições: VII Salão de Fotografia do Mar, Museu Náutico da Bahia, 2013; A Festa da Queimada da Palhinha, Foyer da Biblioteca dos Barris, 2015; Recôncavo Reconvexo, Museu Munean, 2016; Recôncavo Reconvexo, Cine Teatro Lauro de Freitas, 2017.
Águeda Mascarenhas é fotógrafa por paixão, turismóloga por formação e baiana por nascimento. Desde 2014 estuda e se dedica profissionalmente à fotografia. Participou de exposições em Salvador e na Chapada Diamantina, atua com fotografia social e autoral, cria imagens para ambientes, autorrepresentações e fotografias documentais sobre o sertão nordestino. Fotografou o Baile Pastoril Queimada da Palhinha na Bahia e em Alagoas. Em 2020 ajudou a organizar a campanha 150 Fotos pela Bahia com fotografias autorais de fotógrafos baianos e vendas revertidas para instituições afetadas pela pandemia.
Soteropolitano, fotógrafo há 15 anos. Uendel Galter é um apaixonado pela cultura popular e por gente, o que fica evidente em seu trabalho. Desenvolveu projetos nas áreas documental, publicitária e autoral. Publicou fotografias em revistas e livros que abordaram temas ligados à cultura popular e a comunidades tradicionais. Participou de exposições fotográficas individuais e coletivas sobre estas mesmas temáticas. Algumas exposições: Salinas, o mar, a lama e a vida em 2008; A Barquinha veio presentear em 2014; Mulheres das Águas em 2014; e a Festa da Queimada da Palhinha em 2015. Hoje atua como fotojornalista e videomaker.